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A Justiça é serva

Por Yas­min El Kadri Monteiro

Grandes descober­tas! É de se notar o que a curiosi­dade de uma cri­ança a rev­ela. Que esse espíri­to aven­tureiro, e aci­ma de tudo o amor, movam os próx­i­mos questionamentos.

“Vocês ouvi­ram o que foi dito: ‘Ame o seu próx­i­mo e odeie o seu inimi­go’. Mas eu lhes digo: Amem os seus inimi­gos e orem por aque­les que os perseguem, para que vocês ven­ham a ser fil­hos de seu Pai que está nos céus.

“Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e der­ra­ma chu­va sobre jus­tos e injus­tos.” ​Mateus 5:43–45

Há uma pita­da de lou­cu­ra aqui: amar quem me odeia? Será esse o cam­in­ho da justiça? Afi­nal, sol e chu­va con­tem­plam todos sem dis­tinção. Ten­do ou não Jesus como Ser Sober­a­no, esse princí­pio de igual­dade parece cer­to e pres­supõe liber­dade; se Jesus assim ensi­na, a pre­potên­cia de se colo­car como juíz do out­ro pode ser bas­tante danosa. Dessa for­ma, todas as pes­soas dev­e­ri­am gozar dos mes­mos dire­itos e obri­gações. Não dos mes­mos papéis, mas sim do mes­mo respeito pelo ser humano que é. Aliás, a natureza tam­bém pode ser colo­ca­da como irmã da humanidade, quan­do vista tam­bém como Cri­ação de Deus, per­manecen­do ela com o propósi­to para o qual foi fei­ta com tan­ta magnificência.

Surge desse fato uma difer­ença cru­cial entre autori­dade e tira­nia, sendo a últi­ma uma imposição exer­ci­da com cru­el­dade, opressão e, por­tan­to injustiça. O homem ten­do autori­dade sobre a natureza dev­e­ria zelar por ela mais do que qual­quer out­ra espé­cie nes­sa ter­ra. Tris­te­mente, toda a Cri­ação ain­da geme esperan­do quem a cuide, mes­mo com tan­tos cristãos no mun­do. Quan­do de algu­ma parte é tira­do além do que pode dar, con­sid­era-se injus­to. Assim se dá tan­to para a dom­i­nação humana sobre a natureza, quan­to para a explo­ração pes­soa-pes­soa. Uma ressal­va: um homem não foi feito para dom­i­nar out­ro homem, nem out­ra mul­her, nem vice-ver­sa. Não é atoa que uma das máx­i­mas do Evan­gel­ho é “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça​, e todas essas coisas lhes serão acres­cen­tadas.” Mateus 6:33 A maior prob­lemáti­ca dessa explo­ração humana é a nat­u­ral­iza­ção da desigual­dade, ou seja, quan­do ela é pen­sa­da como nor­mal, quase necessária, fenô­meno nat­ur­al prove­niente da car­ac­terís­ti­ca do humano como ser com­pet­i­ti­vo que é e não como ela ver­dadeira­mente é, prove­niente de uma con­strução históri­ca e social.

Ser pobre, por exem­p­lo, nes­sa lóg­i­ca pode ser vis­to como cul­pa da fal­ta de força de von­tade da própria pes­soa. Gor­do então nem se fala, esse é o mais preguiçoso que tem. Na real­i­dade, essas pes­soas muitas vezes não tem opção, seus prob­le­mas estão rela­ciona­dos com a estru­tu­ra de orga­ni­za­ção da sociedade. Essa estru­tu­ra pre­coniza que o desen­volvi­men­to econômi­co garante alívio à pobreza, porém, a per­gun­ta ini­cial dev­e­ria ser: pre­cisa mes­mo exi­s­tir pobreza? É jus­to mes­mo que alguém coma agrotóx­i­cos com pimen­tão, enquan­to tem gente comen­do pimen­tão agroecológi­co? Isso já pen­san­do num mun­do sem fome, porque a com­para­ção está mais para ser alguém comen­do bolacha de ter­ra, enquan­to out­ro gas­ta 50 mil num jan­tar. Para isso exis­tem os dire­itos; para garan­tir essa igual­dade, mes­mo que no papel (na Con­sti­tu­ição do país mais exata­mente), eles dão dire­trizes para coerên­cia real do bem-estar social. Dire­itos não são serviços a serem presta­dos por gen­tileza ou em bene­fí­cio de quem pos­sui os meios, as estru­turas e os recur­sos para isso. Em dire­itos se investe, não se gas­ta. Em dire­itos se põe piso, não teto.

Obser­van­do país­es apre­sen­ta­dos como desen­volvi­dos e ricos, como os Esta­dos Unidos, o cresci­men­to econômi­co não ter­mi­na com a mar­gin­al­iza­ção de cer­tos gru­pos e os índices de desigual­dade e exclusão são uns dos mais altos do mun­do. Per­gun­ta-se: para quem se pro­duz tan­ta riqueza então? Sin­ce­ra­mente, Jesus não deve ter mor­ri­do na cruz para con­sen­tir com isso.

Parte sig­ni­fica­ti­va da sociedade brasileira nat­u­ral­iza a práti­ca de mal­dades extremas. Uma pesquisa do Datafol­ha apon­tou que 50% dos entre­vis­ta­dos con­cor­dam com a afir­mação de que “ban­di­do bom é ban­di­do mor­to”. O sus­peito de come­ter crime se tor­na um inimi­go, um algo cuja vida é con­sid­er­a­da sem qual­quer val­or. Reti­rar o con­tex­to social e as lim­i­tações humanas do obje­to da vio­lên­cia faz parte do proces­so de banal­iza­ção do mal. Isto prat­i­ca­do por pes­soas comuns, é mais perigoso do que o prat­i­ca­do por um psi­co­pa­ta, já que é um mal sistêmi­co, cole­ti­vo e impessoal.

Bem-aven­tu­ra­dos os que têm fome e sede de justiça, pois serão sat­is­feitos.” ​Mateus 5:6

Por fim, a esperança.
O raiar do sol que faz con­tin­uar a caminhada.
Deus cobre de promes­sas os que o amam.

Bem-aven­tu­ra­dos os paci­fi­cadores, pois serão chama­dos fil­hos de Deus.” ​Mateus 5:9

A luta com Deus é paci­ficar. Não é par­al­is­ar. É edi­ficar, con­solan­do e exor­tan­do uns aos out­ros em comunhão per­ma­nente, rumo a trans­for­mar as pes­soas através da cura sub­stan­cial que pode ser rev­e­la­da aqui e ago­ra pelo Reino de amor e justiça reple­tos do caráter de Deus.

Ele con­tin­ua sendo tudo o que a humanidade pre­cisa e nós con­tin­u­amos não sendo nada além de pes­soas que Ele ama. Bus­car-se‑á, por­tan­to, con­hecê-Lo e fazê-Lo conhecido.

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