O pecado de julgar as pessoas é um dos mais sutis entre os famosos “pecados intocáveis”. Um dos motivos está relacionado por meio do disfarce de zelo pelo que é certo/ou deveria ser certo.
No meio de evangélicos, conservadores em especial, sempre existem diversas opiniões sobre tudo: teologia, comportamento, estilo de vida, política, modo de se vestir e expressar. Além de termos opiniões diferentes, geralmente achamos que o nosso ponto de vista é o correto e é o que deveria ser seguido. É nesse contexto que começa o problema de julgar as pessoas.
Vou citar alguns exemplos que vivenciei e que evidenciam esse assunto. Eles me fizeram refletir sobre a maneira de ir à igreja e cultuar a Deus. Sempre escutei desde criança da minha família que deveríamos usar a melhor roupa para irmos aos cultos, e por isso normalmente usamos trajes mais sociais, há uma preocupação em caprichar no visual. Quando minha família e eu começamos a congregar na minha igreja atual, que fica em uma cidade do litoral, via muitas pessoas no culto, de bermudas, usando bonés, chinelo, ou seja, de maneira mais informal, conforme a cultura local. Por vezes escutei meus pais falando para eu e meus irmãos nos vestirmos melhor, afinal, além de sermos a família pastoral e sermos mais vistos pelas pessoas, “estamos indo para a casa de Deus, cadê o respeito? Não se pode ir de “qualquer jeito” ao culto, se fôssemos convidados para um evento com uma pessoa importante da sociedade, provavelmente não nos vestiríamos assim”. O argumento da parte deles, não era ruim, mas como jovens argumentadores que somos, sempre respondemos que a vestimenta não era algo relevante para se estar na presença de Deus, Ele nos aceita como estamos, e não nos vestiríamos para as pessoas. Mais tarde em conversas familiares, entendemos que para Deus realmente não é relevante à maneira como nos vestimos por fora, mas sim como está o nosso coração diante d’Ele. Jesus afirmou que os verdadeiros adoradores são aqueles que adoram ao Pai em espírito e em verdade (Jo 4.23), e isso não é algo que possa ser avaliado pela roupa que vestimos. Além disso, estávamos em um contexto diferente, no qual usar trajes informais não significa falta de respeito, mas uma readaptação ao próprio ambiente. Depois de algum tempo meu pai conseguiu pregar nos cultos sem usar gravata (Hahaha).
Mas, não vamos nos restringir apenas no julgamento de evangélicos conservadores, pois vivemos em um mundo no qual a sociedade como um todo tenciona ao julgamento em diversos níveis. Observe o seu dia a dia, nas pequenas ações, como por exemplo, ao andar pela rua e ao passa por uma pessoa que está vestindo algo muito diferente de você e automaticamente na sua cabeça vem a frase “Nossa, que estilo horrível, jamais alguém deveria usar isso, será que a pessoa não tem espelho em casa?” ou ainda ao se deparar com uma notícia polêmica nos jornais sobre um determinado posicionamento político contrário ao seu, você já pensa: “que bando de ignorantes, não sabem pensar direito e ficam defendendo essas posições lamentáveis”, ou quando ainda vê uma pessoa dirigindo um carro de luxo e afirmamos “Jesus jamais andaria por aí em um carro assim, que esnobe, aposto que fez algo errado para ter esse carro!”, e em seu julgamento não se preocupa de fato com o que Jesus teria feito, essa não é a questão, você meramente está afirmado algo naquilo que acha certo ou errado segundo sua opinião é sem conhecer a situação direito.
“É fácil criticar quem não pensa como nós pensamos e, depois, encobrir o julgamento com a capa das convicções bíblicas.” — Jerry Bridges
A questão é que tratamos algumas de nossas convicções como se fossem verdades bíblicas, somos tão apegados às nossas “verdades” que nos tornamos por vezes intolerantes e não praticantes do amor. Acabamos, por pura convicção pessoal, tratando assuntos como certo ou errado tendo essa “mania de julgar” as pessoas no nosso dia a dia, e muitas vezes levando a nossa posição como única verdade a respeito de assuntos que a Bíblia não trata ou não trata com a clareza que nós gostaríamos. Uma coisa é às vezes, cairmos no pecado de julgar, mas provavelmente você já se deparou com uma pessoa que sempre tem alguma crítica e julgamento para fazer, não importa qual seja a situação ou assunto, sempre haverá um comentário depreciativo para fazer. Este é o grande problema da pessoa que tem espírito crítico negativo, por mais que existam pontos positivos e que possam receber elogios, a pessoa com espírito crítico negativo sempre ressalta aquilo que considera ruim/errado. Normalmente isso acontece entre pessoas que estão mais próximas, amigos íntimos, no trabalho, na família. Conviver com pessoas assim, pode se tornar muito difícil, além do constante sentimento de que nada que você realiza ou sugira é considerado bom ou aceitável. O problema é que com o tempo a pessoa que sempre é criticada acredita que nada que realmente faz vale a pena, e por fim se sente incapaz de realizar algo, interiorizando e ressaltando mais ainda este ponto negativo, aceitando que não há soluções ou saídas se não aceitar sua condição. Em Romanos, no capítulo 14, Paulo adverte aos irmãos a pararem de julgar uns aos outros por aquilo que fazem ou deixam de fazer, nas suas posições contrárias a respeito da alimentação e guardar o dia santo.
O mesmo acontece conosco quando julgamos as pessoas que têm preferências e práticas diferentes das nossas, acabamos usurpando o papel que Deus reservou para si. Jesus também falou sobre isso em Mateus 7.1–5 quando disse:
“Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e à medida que usarem, também será usada para medir vocês. “Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente, para tirar o cisco do olho do seu irmão” (Mateus 7:1–5).
Será que a trave que está em nosso olho não é a da crítica, a da arrogância de usurpamos o papel de Deus? Então a seriedade do pecado de criticar não é tanto o fato de eu julgar o meu irmão, mas o de assumir uma posição que pertence a Deus. Tudo isso não significa que não devemos fazer julgamento/ avaliação às práticas e crenças dos outros. Se o estilo de vida ou o comportamento de alguém é claramente oposto à Bíblia, então temos o direito de afirmar que o outro está pecando, e algumas práticas são totalmente condenáveis por Deus e descritas na Bíblia. Por exemplo a descrição sobre as “obras da carne” em Gálatas 5.19–21 ou as características dos “últimos tempos” em 2 Timóteo 3.1–5. Essas práticas são claramente pecaminosas. Quando julgamos dessa forma, estamos simplesmente concordando com a Bíblia. É a Bíblia que direciona, não nós. Apesar disso, talvez pequemos mesmo julgando/avaliando de acordo com a Bíblia por agirmos com superioridade, aspereza ou espírito de censura. Pecamos principalmente em condenar os pecados observáveis dos outros sem reconhecer, ao mesmo tempo, que continuamos pecadores diante de Deus.
Por isso, antes de criticar algo ou alguém, lembre-se que você é tão miserável e pecador como qualquer outro, necessita da graça de Deus e que suas misericórdias se renovem todos os dias! Não julgue as pessoas. Não é este o nosso dever. Jesus nos chamou para amar. Reavalie se você tem dado mais valor às suas opiniões “bíblicas e teológicas” do que às verdades da Palavra que trazem liberdade a todos os homens. Que Deus nos sonde e transforme.
Baseado no Capítulo Mania de Julgar, do livro Pecados Intocáveis. Autor Jerry Bridges