Eu cresci em um lar religioso, ouvindo as histórias da bíblia, frequentando e fazendo parte da igreja. Quando era criança, lembro muito bem de como me animava ao ouvir as histórias como de Jonas sendo engolido por um peixe grande, de Moisés abrindo o mar vermelho, Noé na arca com todos aqueles animais e tantas outras histórias incríveis que eu ficava encantada. Porém, nunca entendi direito como tudo aquilo podia ser real, acho que pensava que poderia ser como em um conto de fadas, semelhantes aos filmes da Disney.
Na minha pré-adolescência, após nos mudarmos para o Rio Grande do Sul com a minha família, passei por um momento delicado, onde conhecia poucas pessoas e ficava muito tímida em meio as mudanças que aconteciam em minha vida, além de me sentir deslocada fora da igreja, não me sentia aceita pelas pessoas e tinha insegurança em quem eu era. Era vista como estranha, pois não fazia o que outros da minha idade acostumavam e gostavam de fazer.
Mas muitas coisas começaram a mudar nas férias de verão, quando fui em um acampamento com meus amigos da igreja, que se chamava ACAJUMER, eu tinha 12 anos de idade na época. Em um culto, lembro que o Preletor falou sobre Jesus, que não queria que fossemos pessoas que frequentássemos a igreja apenas, mas pessoas que se relacionassem com Ele de verdade. Ele leu algo sobre João 15, que só podemos dar bons frutos na vida de estivermos diretamente ligados a Jesus, e que por mais “bons frequentadores de igreja” que nós pudéssemos ser, bons religiosos ou pessoas boas, sem Jesus não valeria nada, pois só estando ligados a Ele que a vida e o que fazemos pode haver sentindo.
Foi como se eu finalmente começasse a entender o que a vida toda eu sempre ouvia a respeito da Bíblia, e então que percebi que não queria ser apenas como um galho secando, sem dar frutos bons, eu precisava dar frutos e viver muito além do que uma mera religião passada pela minha família, eu queria viver e conhecer mais de Jesus em minha vida. Naquele dia eu tomei a decisão mais importante da minha vida, foi como se uma venda caísse dos meus olhos, e lá estava eu com outros acampantes chorando e pedindo pra Deus me salvar de uma vida sem frutos, uma vida sem sentido e seca. Eu entendi que todo o sacrifício de Jesus na cruz foi por amor a mim para que eu pudesse viver uma vida plena aqui e que tivesse os melhores frutos. Ele havia entregado a sua vida por mim, e o mínimo que eu poderia fazer era entregar a minha vida inteira por Ele de uma vez para sempre.
Voltando para minha igreja, uma irmã falou de um curso chamado “Conhecendo Deus e fazendo a sua vontade” que iria iniciar na igreja e quem tivesse vontade de participar do grupo de estudo, poderia falar com ela. No final do culto eu fui rápido falar com ela sobre meu interesse. Lembro que ela falou que seria um pouco puxado para mim, pois teria muitas lições e eu gastaria muito tempo do meu dia para acompanhar, ela não sabia se uma garota de 12 anos conseguiria fazer o curso, pois nunca havia ninguém tão novo como eu querendo participar. Eu insisti afirmando o meu interesse e me esforçaria para terminar o curso.
Os próximos meses dali em diante, eu passei a dedicar cerca de 2 a 3 horas por dia lendo o livro do curso e a Bíblia. Lembro que em uma das lições, o desafio era tirar um tempo para passear com Jesus e conversar com Ele. Eu não entendia direito porque daquilo, eu só orava antes das refeições e nas reuniões na igreja, mas era como se fosse um ritual, agora eu tinha que imaginar Deus ali do meu lado e falar com Ele como se fosse uma pessoa? Isso soava muito estranho para mim, mas decidi tentar fazer mesmo assim. Eu pensei em sair, mas estava sozinha em casa então fui para o quarto e sentei na minha cama… fiquei um tempo pensando como Jesus poderia estar ali do meu lado e em quanto isso era louco (tipo amigo imaginário, eu já havia passado da idade de brincar disso haha).
Então comecei a falar “sozinha”, contando coisas aleatória do meu dia e falando coisas que eu achava que Jesus poderia ouvir. Essa foi a experiencia mais louca da minha vida, quando no meu coração eu comecei a sentir que Deus de fato se importava comigo e estava disposto a me ouvir. Eu caí no chão de joelhos e chorando agradeci a Deus por não estar distante de mim, por me aceitar como eu era e por ouvir mesmo sendo palavras de uma pré-adolescente. Sentia como se Ele estivesse me abraçando e falando que me amava, sentia como se Ele falasse que queria fazer parte da minha vida, que estaria sempre ao meu lado, e se eu deixasse, Ele queria ser meu melhor amigo. Essa havia sido minha primeira oração consciente e entendendo que Jesus estava me ouvindo mesmo, que Ele era real.
Depois desse momento, eu não parei mais de falar com Ele, eu ia andando para escola falando com Ele (sim, uma garota bem estranha falando sozinha na rua – ou outros deveriam pensar isso de mim, mas eu não estava nem ai haha), falava dEle para meus amigos e queria que todo mundo pudesse entender o que eu estava vivendo. Queria que todos sentissem o amor que eu estava sentido e decidi que essa seria minha missão de vida.
Essas experiências aconteceram a cerca de 10 anos atrás, e durante essa caminhada, eu passei por muitas outras experiencias com Deus, pude conhecer um Deus presente e que se importa comigo mais do que ninguém. Entendi que não é a religião que salva, mas só Jesus por meio do seu amor, o contrário é mera doutrina e religiosidade. Eu até já havia me batizando antes, mas só fui entender o sentido disso mais tarde.
Depois dessa minha decisão e nova caminhada na fé, também passei por muitos momentos difíceis e complicados na minha vida, mas sempre senti que Deus estava ali ao meu lado. Todo dia Ele faz questão de mostrar o seu amor por mim, que sua graça não tem fim e as misericórdias se renovam todas as manhãs (Lm 3. 22 e 23). A vida com Ele não tem como ser monótona ou parada, pois sempre há algo novo a aprender e viver, Ele está disposto a fazer coisas incríveis na minha vida, tanto quanto aquelas histórias quando eu ouvia quando criança.
Descobri com o tempo que quanto mais próxima de Jesus eu estou, mais compreendo quão real Ele é. Um amor incondicional que mesmo que eu continue a errar e falhar, Ele continua me aceitando como eu sou. Quem além dEle pode ser assim? Um Deus que não abandona quando mais precisamos ou até quando achamos que não precisamos. Um Deus que se importa desde os grandes aos pequenos detalhes da minha e da sua vida. Hoje não sei como seria minha vida sem Ele e nem imagino como será… Ele deu tudo por mim, e eu acho ainda, que o mínimo que eu posso fazer é dar tudo para Ele. Você já experimentou algo isso também?
Gabi Beuter